A última carta ao passado

Querido passado,

                    Ultimamente eu andei pensando e repensando tudo na minha vida e percebi aquilo que eu mais temia: Estou presa ao passado. Tudo que eu sou, tudo que eu gosto, tudo que almejo é repleto de passado. Manias, pessoas, medos, gostos, vontades, livros favoritos, comidas favoritas... Tudo. Eu sou apenas uma projeção de tudo que eu já fui ou almejei. Primeiramente entrei em desespero por perceber que o meu maior medo era agora minha realidade, depois percebi que era hora de reinventar a minha vida, me reinventar, e foi o que eu fiz.
                    Parei para pensar em cada pequeno aspecto da minha vida, cada pequena coisa que me tornava quem eu era, e se eu realmente era quem eu queria ser ou se tudo era apenas quem eu fui no passado, escondido por trás do medo de mudar. Comecei então a enfrentar os meus medos, um por um, e, depois que comecei tudo ficou mais fácil. Eu cresci, mas os medos continuaram pequenos, era como um gigante lutando contra um pequeno guerreiro que só conseguia incomodar ao invés de realmente assustar. Depois dos medos analisei os meus sonhos, se realmente eram coisas que eu deveria almejar, deixei algumas coisas de lado, mantive outras, acrescentei outras tantas. Nessa altura das mudanças percebi que, apesar de doloroso era maravilhoso deixar algumas coisas irem embora. O passado te segura e te puxa para baixo, ele não te deixa progredir, impede o seu crescimento.
              Fui me refazendo, aos poucos, uma coisa de cada vez, dei o meu tempo e deixei ir naturalmente, abri a mente e vivi novas experiências, coisas foram, coisas ficaram, coisas chegaram. Abrir mão de coisas é fácil, fazemos isso todos os dias. Dependendo de como você faz pode até mesmo ser divertido como um jogo, mas nem tudo são flores e as mudanças sempre cobram seu preço. Eu finalmente cheguei à parte mais difícil e dolorosa, era hora de mexer nas feridas, era a hora de pensar nas pessoas. Eu admito que demorei muito para conseguir, de fato, começar a analisar o papel de cada um na minha vida, mas é como dizem, você tem que deixar as pessoas livres para irem embora, e não apenas fisicamente mas do seu coração também, mesmo que doa, pois chega um momento em que a pessoa simplesmente não está mais ali e continuar mantendo-a por perto, mesmo que mentalmente, irá apenas machucar. E foi assim que percebi que eu amei muito, mas amei errado. Eu amei lembranças que eu tinha sobre quem as pessoas eram no passado, não quem elas são agora. Eu amei o fato de ter tido bons momentos com essas pessoas. Percebi que tive medo, muito medo. Medo de ficar sozinha, medo de perder, medo de ser julgada por admitir que não mais amava quem eu tanto amei anteriormente.
                   Percebi que não apenas eu era um eco do passado, como eu também amava ecos do que as pessoas foram no passado. Eu fui cega: Me recusava a ver as mudanças, me recusava a aceitar que nem todos eram ainda as pessoas que eu conhecera. Doeu. Doeu muito mais do que eu pensei que pudesse doer perceber tudo isso e deixar partir quem não mais me acrescentava e sim subtraía. Mas eu superei, eu sobrevivi e mudei tudo. Agora sou uma versão melhor de mim, uma versão livre e com uma página completamente nova e em branco para escrever uma nova história, não a história de quem eu fui ou de quem eu quis ser no passado, mas a história do que eu quero ser agora, afinal, não há nada de errado em mudar seus gostos e desejos, não há nada de errado em querer ser diferente. No final você acaba descobrindo que esse é o curso da vida, cheio de mudanças e coisas boas para serem descobertas, basta você se livrar das amarras e abrir os olhos.

Com carinho,
Presente.

5 comentários:

  1. Me definiu. É difícil deixar o passado para trás, todos os ecos. E realmente o mais difícil são as pessoas. Como manter alguém que não quer estar perto? Dói muito.

    ResponderExcluir
  2. Tenho uma perspectiva diferente do que se intitula "Passado". Não o vejo como uma "amarra", mas como uma cicatriz com a função de te lembrar dos seus erros; mostrar como se acerta. O próprio passado em si te muda. A decisão ali citada de "tomar as rédeas da situação" só aconteceram devido ao que já se foi. Estar "preso ao passado" é o melhor que podemos fazer para evitar sugestivos deslizes e nos manter focados no que realmente importa no Presente. É como dizem: "repetir erros esperando diferentes resultados é loucura", e o seu passado é o seu Manual de Si Mesmo.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns Liih, ficou muito bom, continue assim, espero poder ler mais textos como esse e quem sabe um livro!
    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Parabéns Liih, ficou muito bom, continue assim, espero poder ler mais textos como esse e quem sabe um livro!
    Abraço!

    ResponderExcluir
  5. Lindo texto Lílis, livrar-se da carga negativa que o passado trás com ele e algo muito bom. Eu confesso que o meu passado, ainda assombra meus pesadelos, porém apesar de toda magua que ele deixou, eu sinto que mesmo depois de anos consigo erguer a cabeça e ir adiante Pq me tornei mais forte Qd percebi que não precisava ficar presa a ele como eu era. O passado sempre estará lá para nos lembrar das coisas boas e ruins, mas cabe a nós mesmos não deixar que isso interfira em nossas vidas!
    Bjosssss s2

    ResponderExcluir